Monday, June 13, 2005

O Casamento de Romeu e Julieta

Hoje foi divulgado na Ilustrada:"Cinco filmes brasileiros estréiam em festival em Miami". Entre eles estão Olga, de Jayme Monjardim, O Redentor, de Cláudio Torres e O casamento de Romeu e Julieta, de Bruno Barreto. Por isso, eu aproveito essa notícia para publicar a reportagem que eu escrevi no mês de abril sobre o filme O Casamento de Romeu e Julieta (com colaboração de Rodrigo Almada, Paula Granjeia e Adriana Oliveira) para a disciplina jornalismo cultural.
Mais uma vez Romeu e Julieta
Era uma vez, um homem e uma mulher que se amavam, mas não podiam ficar juntos, pois suas famílias se odiavam. Não, não estamos falando do livro Romeu e Julieta que William Shakespeare escreveu em 1595. A história aqui retratada é o roteiro do filme brasileiro O Casamento de Romeu e Julieta no qual as famílias de Romeu e Julieta se odeiam por causa do futebol.
Tentando fugir dos clichês das comédias românticas, o diretor do filme, Bruno Barreto, misturou a cultura erudita, trazendo a obra de Shakespeare e o conto Palmeiras, um caso de amor de Mario Prata como referências, com a cultura popular do Brasil, o futebol.
Porém, a tentativa de resgatar esses nomes da cultura erudita não deu certo. Os brasileiros só lembram de Shakespeare quando o assunto é o filme “enlatado” Romeu e Julieta (EUA,1996), estrelado por Leonardo di Caprio.
A estudante de enfermagem Claudia Rodrigues Alves, 24 anos, garante: “a melhor versão da obra de Shakespeare foi aquela que Leonardo di Caprio participou”.Ela afirma: “só fui ver O Casamento de Romeu e Julieta para acompanhar minha amiga”. Quanto a Mario Prata, Claudia é sucinta: “nem sei quem é”.
Declaração como essa prova o quão a indústria cultural se fortalece a cada dia. As pessoas só assistem a um filme se ele é bem divulgado pelos meios de comunicação de massa. No caso de O Casamento de Romeu e Julieta, a Globo Filmes é a co produtora. Além disso, a indústria cultural faz com que o filme não seja pensado, apenas consumido.
Outro fator relevante é que, em meio a tantos outros enredos escritos por Shakespeare, o público só associa o nome do dramaturgo a Romeu e Julieta. Regiane Caminni, mestre em comunicação e semiótica e também professora de Cultura Brasileira e Roteiro, explica: “Como o povo brasileiro pulou da cultura oral para a cultura de massa, a romantização sempre é necessária para tornar a obra mais interessante”. Sendo assim, as constantes referências à Romeu e Julieta nem necessitam de adaptação já que seu enredo traz o arquétipo do amor impossível que, mesmo dando a conotação da mesmice, faz parte do senso comum brasileiro e, portanto, interessa à indústria cultural.
Regiane relembra que outra grande produção de Hollywood trouxe o nome de Shakespeare para as massas. O filme desta vez é Shakespeare Apaixonado (EUA,1998), com a atriz Gwyneth Paltrow no papel principal. A semioticista e roteirista explica que isso acontece devido ao fato de a cultura de massa ser pobre de conteúdo e de os gerenciadores da cultura de massa terem que recorrer à produção elitista para abastecer a produção em série.
Mesmo com a iniciativa do diretor de O Casamento de Romeu e Julieta de misturar a cultura erudita e popular para tornar o filme diferente, trazer o futebol como resgate da cultura popular do Brasil não passou de uma estratégia para vender melhor a obra. O também mestre em Comunicação e Semiótica Carlos Avelino de Arruda Camargo considera “além de banalizar a cultura erudita, esse filme utiliza o futebol apenas com o intuito de comercialização”.
De qualquer forma, o filme de Bruno Barreto já está há quase dois meses em cartaz e logo será descartado, como todos os filmes fabricados pela indústria cultural. Mas não fique triste, pois, com certeza, veremos em breve nos cinemas mais uma vez a triste tragédia de Romeu e Julieta.


1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Olá Ariane. Adorei essa reportagem, realmente o filme de Bruno Barreto é totalmente comercial e tem um roteiro bem fraquinho. Beijos e boas férias.

12:42 PM  

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