Manderlay
Desde que no século XIX os Europeus redescobriram a África e a ocuparam de maneira violenta, construiu-se a imagem de que, na realidade, o bárbaro era o povo africano. Hoje, além do problema social do qual a África carregou durante séculos, existe o econômico, já que o continente é excluído por não fazer parte do jogo capitalista comandado pelos norte-americanos. Por isso, a escravidão, conseqüência dessa exclusão, é o tema tratado em Manderlay, novo filme de Lars Von Trier exibido na 29º Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O longa é a continuação de Dogville e mostra Grace (interpretada não mais por Nicole Kidman, e sim por Bryce Dallas Howard) rumo a Manderlay, cidade que, em 1933, ainda vive sob regime de escravidão.
Mesmo que o cenário feito com marcações no chão e que os personagens que surpreende no final não inovem o estilo criado por Von Trier em Dogville, o filme traz diferenciais. Além de conter uma crítica mais profunda e mais explícita aos EUA (denuncia que há uma dívida moral da parte dos norte-americanos para com os africanos e aponta o problema do desmatamento desenfreado e suas conseqüências), possui diálogos irônicos capazes de tirar gargalhadas dos espectadores.
No final do longa, quando entram os créditos, percebe-se a referência as obras cinematográficas de Michael Moore. Fotos impactantes de negros sincronizadas com música de letra forte provam a admiração de Lars Von Trier pelo documentarista.