Thursday, November 24, 2005

O Informante

Resenha crítica do filme produzida para a disciplina Ética e Legislação em Jornalismo

7 é o número de indicações ao Oscar que o filme O Informante recebeu e isso é o suficiente para incentivar muitas pessoas a assistirem ao longa. O que esse público não sabe é que O informante é um filme que vai além de um simples drama baseado em fatos reais. Ele serve principalmente como reflexão para os profissionais de comunicação, em especial, os jornalistas.

O Informante mostra a trajetória de Jeffrey Wigand (interpretado por Russell Crowe), ex-vice-presidente da fábrica de cigarros Brown & Williamson, que resolve delatar a empresa no programa de tv “60 Minutos”, após ser convencido por Lowell Bergman (interpretado por Al Pacino), produtor do show. A princípio, Wigand recusa divulgar o que sabe por causa do acordo de confidencialidade que prevê convênio médico e indenização a sua família. Porém, após muita insistência do produtor do programa de maior furos e audiência da CBS, aceita denunciar que a empresa sabia sobre o vício causado pela nicotina e aplicava aditivos químicos ao cigarro.

O que é necessário pensar, em um primeiro momento, é se as informações de Wigand na entrevista seriam utilizadas pelo “60 Minutos” para serviço de fiscalização das instituições ou apenas por sensacionalismo. Afinal, se o objetivo era fiscalizar e informar a sociedade, a entrevista não deveria ser proibida de ir ao ar na íntegra quando a CBS foi ameaçada de litígio. A frase dita por Bergman “A imprensa é livre para os seus donos” responde a essa questão. Isto é, de acordo com seus interesses, a imprensa deixa de esclarecer seus leitores/ telespectadores/ ouvintes, validando para o resto do mundo o que o Instituto Gutenberg, em um boletim, afirmou sobre o nosso país: “No Brasil, predominam entre jornalistas a autocensura, a descrença na democracia e uma visão instrumentalizadora do que seja o interesse público”.

Outro ponto importante a ser levantado é a relação ética entre jornalista e fonte. O jornalista Nilson Lage defende que a relação com a fonte deve ser cordial e correta. Bergman em todo o momento demonstrou respeito por Wigand ao declarar “não delato fonte” e ao indagar “Você é um homem de negócios ou de notícia?”.

Finalmente, a principal lição que podemos tirar desse filme é a descoberta da necessidade de uma auto-análise de como estamos agindo como profissionais e futuros jornalistas. Bergman não titubeou ao largar o trabalho por receio de não poder garantir mais a suas fontes proteção. E nós? Fizemos ou faríamos isso? Poucos foram os casos de jornalistas que adotaram essa postura. O que vemos hoje em dia são trocas de favores entre assessor de imprensa e jornalista e entre fonte e jornalista. Está na hora de revermos a parte da filosofia que se ocupa do comportamento humano - a ética- no jornalismo e lembrarmos que a liberdade do jornalista acarreta decidir o melhor de maneira responsável.

Thursday, November 17, 2005

Hollywood ainda influencia cultura e cinema brasileiro

Esse é o trabalho que eu fiz para a disciplina História Política e Econômica Contemporânea sobre a influência do Império Norte-Americano.

Desde que 4,6 milhões de pessoas assistiram ao filme Carandiru, muito se tem falado na retomada do cinema brasileiro. O debate esquentou com a decisão da Comissão de Críticos, escolhida pelo Ministério da Cultura, de mandar a candidatura de Dois Filhos de Francisco para o Oscar 2006 de melhor filme estrangeiro, e com o registro de 4,7 milhões de espectadores, tornando o filme que conta a história de Zezé di Camargo e Luciano o mais visto no Brasil desde 1990. Mesmo com esse recorde, ainda é pouco para comemorar a “Independência Cultural do Brasil”, já que os filmes nacionais atuais de grande bilheteria e a cultura brasileira ainda são muito influenciados pela indústria cinematográfica norte-americana.

A ascensão do cinema feito pelos EUA ocorreu em 1918, quando, aproveitando que as produções nos países europeus estavam paradas por causa da I Guerra Mundial, um grupo de produtores cinematográficos instalou-se no povoado de Hollywood. Em 1920, o modelo Fordista, que defendia a produção em série, influenciou as produções cinematográficas, gerando os filmes “enlatados”. Mas foi definitivamente com a disputa de poder e território durante a guerra fria que se consolidaram os filmes com o valor mercadológico, já que os EUA, ao contrário da URSS, criaram estratégias para difundir o capitalismo e uma delas foi o investimento em uma máquina ideológica.

Para o historiador Haroldo Lossolli, além de os EUA terem saído vencedores desse episódio, outro fator que contribuiu para a influência do país no Brasil foi a mudança de século e de regime pela qual os brasileiros estavam passando. “Nós queríamos fazer parte da modernidade”, diz. Ele frisa que não foi só o cinema que foi utilizado como instrumento para a influência. Toda a parte cultural foi explorada. “Hollywood foi a maneira que eles encontraram para divulgar o american way of life, mas eles não esqueceram de utilizar a propaganda, o jornalismo e a arquitetura para propagar o modo de vida americano”, fala.

A interferência de Hollywood na cultura brasileira e no modo de fazer cinema no Brasil é percebida, por exemplo, na edição do mês passada da principal revista brasileira de cinema, a Set. Um leitor enfurecido enviou uma carta declarando “Sou leitor assíduo e acompanho todas as transformações nesses dezoito anos e o que tem me chamado a atenção é a americanização da Set. Fiz um apanhado das edições 206 a 216 e nessas onze revistas apurei resenhas, críticas, comentários com relativo destaque: 456. O resultado foi: filmes produzidos nos EUA: 348, ou 76,3%; filmes produzidos no Brasil: 49, ou 10,8%; filmes produzidos em outro países: 59, ou 12,9%.” Outro caso foi o de a edição da Set desse mês ter trazido a público a matéria “Cinema? Que Cinema”, em que critica o Festival de Gramado. O jornalista escreve: “A cada novo Gramado, o festival mais se distancia de sua aura puramente cultural”. “O extenso tapete vermelho que leva ao Palácio dos Festivais e a valorização dos atores globais presentes, mesmo alguns não tendo qualquer existência cinematográfica, já prenunciam o cinema do espetáculo e da celebridade”. E finaliza “O pensar cinema fica em segundo plano; o assistir a um bom cinema, também”.

Já a influência no cinema brasileiro é possível por uma única razão – dinheiro. Os cineastas brasileiros acabam seguindo as fórmulas hollywoodianas, pois pensam que esta é a melhor maneira de se fazer cinema. Em entrevista à revista Época, a produtora de filmes Paula Lavigne declarou que faz longas pensando no mercado “Não quero fazer filmes só com sanfona, com nordestino passando fome” e apontou o problema do cinema brasileiro “As fundações culturais levam 50% da Lei Rouanet e isso faz muito falta. Se o banqueiro pode botar grana em sua fundação, não vai pôr dinheiro no cinema. Todo banco hoje, além de lucros exorbitantes, tem fundação. Estamos competindo com o mesmo dinheiro que vai para reforma de igreja e para bandinha do interior”. Rubens Edwald Filho também tem uma visão pessimista sobre o assunto. “Os brasileiros não têm sido grande coisa, este ano apenas 2 Filhos de Francisco foi bem de bilheteria”, declara. Percebe-se isso com a migração de grandes diretores brasileiros, como Walter Salles e Fernando Meirelles, para Hollywood.

Haroldo acha que o problema é muito mais complexo. Segundo ele, até os anos 50 havia uma integração de culturas, por exemplo, com Hollywood se inspirando em peças teatrais apresentadas no Teatro Municipal. Mas, depois desse período, aconteceu uma sobreposição de culturas, isto é, a americana se destacou e ditou regras para todas as outras. Exemplo disso é a total americanização da artista Carmem Miranda.

O historiador faz questão de relembrar a forte presença da contra-cultura nessa época. Nos anos 50, o Cinema Novo trouxe elementos que renovaram o cinema e que contrariaram o voltado para o grande público. “A falta de movimentos contestatórios me assusta. Hoje o que vejo são apenas jovens rebeldes sem causa”, desabafa.

Com ou sem reação da sétima arte, devemos ter consciência de que 4,7 milhões de espectadores é um pequeno número em um país que consegue lotar um estádio de futebol de 85 mil lugares, como o Pacaembu, em uma só partida. Infelizmente, o Brasil está longe de conquistar a sua independência cultural.

Melinda e Melinda






















Woody Allen já escreveu 56 roteiros, dirigiu 41 filmes e atuou em 40 longas. Sendo assim, é merecido que seu nome esteja entre os de maior referência do cinema no gênero comédia. Mas ele não se tornou conhecido só pelo fato de ter trabalhado muito. Ele criou um jeito novo de fazer o público se divertir sem precisar apelar para a vulgaridade. As piadas secas, irônicas e rabugentas bastam para arrancar sorrisos no canto da boca.

Em Melinda e Melinda, filme que acabou de chegar às locadoras, percebe-se um Allen mais velho, mas não menos experiente.

O longa mostra dois escritores com diferentes opiniões sobre como deve ser a história de Melinda - mulher que largou o marido e os filhos para ficar com o amante e que depois foi abandonada. Um dos escritores vê o destino de Melinda de maneira engraçada e o outro de forma trágica. A moral do filme é a de que qualquer fato pode ser visto por diversos vieses. Mas isso é o menos importante, já que a graça está em poder assistir, ao mesmo tempo, uma história de drama e outra de comédia escrita e dirigida por Woody Allen. E, convenhamos, ele se sai melhor no segundo gênero, mostrando que o posto de grande comediante não será perdido tão cedo.

O único defeito do longa (a ausência de Allen como ator) é um dos seus maiores méritos. Will Ferrell substituiu com classe o comediante, representando muito bem o que, com certeza, era para ser papel de Woody.

Agora é só esperar a estréia de Match Point, filme estrelado por Scarlett Johansson (A Ilha), para ver o próximo feito do Diretor/Roteirista/Ator.